domingo, 24 de fevereiro de 2008

Café Amargo - 8º Capítulo

... 8 ...

O gelo se dissolve. O dedo continua a rodar no interior do copo. A visão embaça. Ele sorri. Talvez esteja conseguindo enxergar o mundo melhor. Não compreende. Nem como trazer o valor de um café inferior para o preço do café mineiro. Nem como explicar à Lídia quem é a real traidora.

Olha novamente para as projeções de descontos, sobre os valores que serão declarados. “Vai ficar na cara.” Pensa. Café de Rondônia supervalorizado. A Receita não é tola.

Talvez Lídia precisasse aprender com a Receita.

Ou o contrário.

A visão embaça de novo.

Mais um gole no destilado.

Lembra-se de uma poesia de Lídia. De como ela manifestava-se pura. Inocente. Como uma criança. “Ela não cresce. Como poderia ser mãe? Talvez fosse isso. Seria a melhor mãe.” Pensa na sua mãe. No carinho que alimentou pela garota que há poucos minutos o deixava absorto em pensamentos no Al Kabhar. Lembrou do azeite. Palavra árabe. Lembrou...

Com susto, se levanta. Com o ouvido novamente interpretando o dolorido toque que o telefone exercia no seu ser.

“Oi...” Suspira com a voz irremediavelmente rouca.

“Senhor Adriano.”

Ele olha o relógio. E corre para o banho.

“Senhor Adriano? Senhor... Senhor...”

Sinal de ocupado soando pelo viva-voz na casa inteira.

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