... 8 ...
O gelo se dissolve. O dedo continua a rodar no interior do copo. A visão embaça. Ele sorri. Talvez esteja conseguindo enxergar o mundo melhor. Não compreende. Nem como trazer o valor de um café inferior para o preço do café mineiro. Nem como explicar à Lídia quem é a real traidora.
Olha novamente para as projeções de descontos, sobre os valores que serão declarados. “Vai ficar na cara.” Pensa. Café de Rondônia supervalorizado. A Receita não é tola.
Talvez Lídia precisasse aprender com a Receita.
Ou o contrário.
A visão embaça de novo.
Mais um gole no destilado.
Lembra-se de uma poesia de Lídia. De como ela manifestava-se pura. Inocente. Como uma criança. “Ela não cresce. Como poderia ser mãe? Talvez fosse isso. Seria a melhor mãe.” Pensa na sua mãe. No carinho que alimentou pela garota que há poucos minutos o deixava absorto em pensamentos no Al Kabhar. Lembrou do azeite. Palavra árabe. Lembrou...
Com susto, se levanta. Com o ouvido novamente interpretando o dolorido toque que o telefone exercia no seu ser.
“Oi...” Suspira com a voz irremediavelmente rouca.
“Senhor Adriano.”
Ele olha o relógio. E corre para o banho.
“Senhor Adriano? Senhor... Senhor...”
Sinal de ocupado soando pelo viva-voz na casa inteira.
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