sábado, 16 de fevereiro de 2008

Café Amargo - 7º Capítulo

... 7 ...

Talheres... Uma sinfonia deles. Ao chegar ao restaurante e depois de algumas risadas ao som de Ben Harper, no novíssimo honda da moça, uma música diferente. A música dos restaurantes. Mesmo os finos, como o Al Khabar.

“Azeite é árabe?”

“A palavra sim!” Responde Lídia

“Ora... Então somos ladrões dos árabes no azeite também?”

“E dos romanos... Óleo. Óleo de oliva. É um exagero. Pois óleo já significa que é de oliva.”

“Então a soja deveria se chamar graxa?” Ri Adriano.

“Talvez. Mas nunca me fale em azeite de oliva. É uma repetição horrível.”

“Sim... Letrada.”

Lídia era fruto dessas apaixonadas por etimologia de palavras. Sua mãe, escritora de renome. Seu pai, músico. Seu corpo esbelto estava envolto dessa aura mágica da comunicação. Seja harmônica ou letrada.

Talvez por isso a imprevisibilidade. Pela espontaneidade constante.

“Então. A Laura agradeceu pela carona. Estava muito cansada para deixá-la em casa.”

“Agradeceu pela carona?” Pensou. Como a garota era tão ordinária. Com a própria amiga? Ta certo que a amizade delas é por intermédio dele. Ele as apresentou. Mas porque a Laura teria tanto interesse assim em encher a amiga - se é que era amizade isso - com mentiras e sacanagens?

“Quem estava com você no outro dia? Uma garota atendeu o telefone... Desculpe, me esqueço... Não quero interferir...”

“Os senhores gostariam de sentar na área de fumantes ou não fumantes” Interrompe o maitre.

“Fumantes, por favor.” Diz Lídia olhando com ternura para Adriano.

“Obrigado. Ainda tenho vergonha de dizer isso...” Murmura ao ouvido de Lídia enquanto sorri de volta.

O tempo passa e os dois procuram se entender. Sabem que não se joga para trás tanto tempo. Tanta dedicação. Durante a curta hora que possuem contam notícias de ambas as vidas e deixam passar despercebido, um para o outro, a atração sincera que ainda sentem. A sede de poesia.

“Mas porque não? Filhos são bons para dar uma apaziguada na tristeza...”

O silêncio.

“Preciso voltar. A coisa ta feia pra mim lá. Entende?”

“Entendo. Vamos pedir a conta.”

“Ta. Pode deixar Lídia. Eu pago.”

“Carteira nova. Linda...” Um bilhete cai na mesa.

“Ainda desenhando? Posso ver?”

A expressão de Lídia fica contorcida.

“O que foi Lídia?”

“Como vocês foram capazes? Não é possível...” e mostra no verso do desenho, o texto que o guardanapo escondia.

“Gatão. Obrigado pela noite. Você é um homem e tanto. Laura.”

A silhueta esbelta da garota vai sumindo pela porta do restaurante.

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