quarta-feira, 1 de maio de 2013

Manifesto Cultural Inacabado


O efeito de refletir sobre os próprios atos, contém a sabedoria que nos guia.

Perceber os enganos após a tormenta emocional é chave de libertação de muitas prisões confirmadas nos comportamentos do dia a dia.

O sentido de escrever essas sentenças tem um foco bem definido.

A emancipação humana do egocentrismo.

Na renascença, meados do século XVI, o antropocentrismo foi de real importância na emancipação do homem de suas amarras ideológicas e políticas atreladas ao sistema feudal e ao cristianismo papal.

Por outro lado, ele criou desse momento em diante uma afirmação que distancia o homem do universo, anunciando a humanidade como o centro de tudo. Afirmação que gerou e gera consequências nefastas.

Agora, no início do século XXI estamos caminhando para novamente quebrar paradigmas.

Desde a revolução industrial, do avanço no domínio das energias, que novas técnicas e novas formas de pensar buscam novamente nos emancipar de um inimigo ideológico.

O egocentrismo.

Ao teorizar o homem como o centro do universo, filósofos modernos, e estudantes das diversas áreas do conhecimento ignoram que o homem não é na verdade centro do universo, mas sim parte dele.

O conhecimento gerado funcionou, porque alavancou o estudo das diversas funções humanas. Cumprindo o destino humano de se conhecer. Mas de forma alguma, exaurindo esse destino infinito.

As teorias contemporâneas como a teoria da relatividade, vêm por fim, lembrar que sendo parte, não será necessariamente pequena ou grande. Apenas parte.

O movimento egocêntrico está expresso na sociedade atual, em sua maioria.

Em dois grandes aspectos. O sucesso material e profissional, aqui encarado como posição de destaque social; e o domínio do conhecimento e de informações privilegiadas, encarado aqui como supremacia argumentativa.

Por partes.

O ego é conhecido das terapias acadêmicas como a manifestação mais próxima do instinto de sobrevivência.

Essa descrição é superficial, mas amplamente aceita.

Não vou me deter em descrever o ego.

Quero apenas passar por esse assunto no seguinte sentido. O ego como toda manifestação humana, e, portanto natural, universal, tem duas faces facilmente identificáveis que não estão necessariamente apartadas, mas são parcelas de um todo. Entre essas faces existe uma gama de outras, como cores de um arco íris.

Uma, que chamaria de positiva é justamente a que nos faz conduzir nossas necessidades básicas, elementares. Ela nos guia por movimentos de busca da subsistência, socialização dessas necessidades, com o fim de mantê-las.

A outra, que chamaria de negativa, é a tentativa de manter o padrão adquirido de subsistência.

Não se engane. Todos nós temos as duas. Como tantas outras faces do ego.

Talvez, na passagem da vida, possamos não experimentar todas. Mas fatalmente temos.

O que diferencia os diversos e infinitos tipos humanos é a dosagem do ego sobre outros caracteres da personalidade humana.

Assim também, nesse caso atitudes positivas ou negativas não se identificam com a noção moral de bom ou ruim.

Aqui o positivo tem o significado de unir, somar, buscar, reunir.

O negativo de negar mesmo, não distribuir, valorar as conquistas.

Em algumas sociedades o conceito moral não valora as atitudes por suas ambições, por suas necessidades. 

Mas pela sobreposição da vaidade sobre a necessidade.

Façamos do argumento de que vaidade é a superdosagem do ego.

Como se o ego fosse uma espécie de ferramenta útil, mas que se usada em excesso geraria transtornos graves.

Aqui estamos chegando ao foco do assunto.

Emancipação do egocentrismo.

Quando nos tornamos viciados em uma ferramenta útil, então distorcemos a função da ferramenta e a tornamos não mais ferramenta, mas centro dos nossos movimentos.

O ser vaidoso, ou egocêntrico, transforma a ferramenta ego em função da sua vida, dos diversos movimentos empregados durante a existência.

Suas razões são múltiplas. Seus argumentos refinados. Mas a lógica natural vai lhe negar apoio.

Se o ego serve para subsistência.

Por outro lado o altruísmo também tem sua serventia.

Exemplo máxime do ocidente cristão a figura de cristo mostra claramente o altruísmo em sua forma pura nos textos ligados às religiões cristãs.

Ele é diametralmente oposto à vaidade, sacrifica seu corpo e sua vida e segundo os textos religiosos o faz com a missão de espalhar vida e perdão como mártir.

Não quero me deter na figura religiosa de Cristo.

Mas sim exemplificar o altruísmo como antídoto para o egocentrismo.

Diferentemente do que pregam livros dos cursos de economia e administração. Diferente do que pregam certas sociedades e instituições religiosas, o altruísmo não tem nada com o significado de doação.

Mas sim com o significado de serviço ou mesmo de sacrifício.

Enquanto o egocentrismo busca domínio e poder absoluto o altruísmo busca sacrifício, perda, em nome da coletividade.

Isso fica claro num dos exemplos que transcendem o tempo e a história humana.

O egocêntrico diz: vou colher frutos. E até socializa ao grupo: vamos colher frutos. Ao fim, estabelece uma proposta convincente, tanto na argumentação quanto na força que irá beneficiar a si e ao seu grupo.

O altruísta diz: vamos colher frutos. E socializa com o grupo: vamos colher frutos. Ao fim, estabelece normas de distribuição que irão atender a demanda de todo o grupo e tornar o grupo forte e coeso.

A palavra “grupo”, aqui, sugere o cerne do altruísmo. O que é grupo?

O egocêntrico caça, colhe, junta, solidifica sem estar atento à unidade. A percepção altruísta seleciona a unidade do todo em função da manutenção harmônica e equilibrada.

Daí vem o conceito de moral. Bom e mal.

O egocêntrico é mal. O altruísta é bom.

Quando cristo religioso sacrifica sua vida, ele separa os maus dos bons e cria conceitos morais que até então estavam sendo solidificados pelos hebraicos. Mas mesmos os sacerdotes hebraicos na época, e até muitos outros ainda hoje não entenderam o recado.

A cadeira jurídica trata atualmente, nas sociedades ocidentais de moral evidentemente cristã de verificar o bom senso e a má conduta, as relacionando em códigos e textos legais.

Mas a classe do poder que exerce a função legislativa esta entregue à vaidade. Fato inconteste.

Distorce a noção fundamental do ego, não exerce o altruísmo puro e entrega uma prestação legal que não tem valor para a manutenção social e civil.

É o ápice do conceito antropocêntrico: o egocentrismo.

Não cabe somente aos populares exigir o reposicionamento da classe que detêm poder. O que até contradiz a sobreposição de ego sobre necessidade valorada anteriormente.

Mas exibir diariamente o antidoto altruísta e gerar novas consequências factuais.

A cultura em geral sentirá sensivelmente a mudança.

Esse movimento pode ser reconhecido como revolução silenciosa. Ou revolução homeopática.

A mudança nas pequenas ações. Sentida por poucos, mas que se aceitas por muitos, tornarão os vaidosos exceção e não maioria.