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Entrando pelos corredores, como há cinco anos já fazia de forma única, Adriano percorre os olhares intrigados dos funcionários. Deixa a pasta cair sobre a mesa de sua secretária, puxa a maçaneta e entra em sua sala.
“Mais um dia nesse antro.” Reclama da má sorte. Para novamente a olhar o espelho. Tem vontade de se desenhar. Olha pro outro lado. A gravura de Picasso o intriga. O faz pensar na sua mediocridade.
Volta os olhos para a tela do seu computador. Analisa a cotação das ações da Arábica, a maior distribuidora de café verde do Brasil para o exterior. Não existia café industrializado que se contivesse no rótulo: brasileiro, sem que pelo menos passasse por uma negociação com eles.
“Preciso de um novo relatório para os controladores! Preciso mostrar pro mercado que essa cotação ainda está abaixo do real valor.” E novamente o Picasso. Novamente ele não se contenta em manipular informações. Queria ser mais abstrato. Menos preciso. Mais embaçado.
“Senhor?” Entra a secretária nova em sua sala. E de pronto, Adriano a interrompe:
“Você sabe usar o interfone?... Diga!”
“A senhorita Lídia ligou. Perguntou se o senhor gostaria de almoçar com ela.”
O silêncio se fez. Novamente. Em menos de duas horas. E novamente, Adriano passa por cima do silêncio.
“Diga a ela que realmente não estou com tempo essa semana. E me traga a Gazeta, não chego aqui sem que a Gazeta esteja na mesa.”
“Sim... Senhor.”
Altiva. Porém com humildade a secretária fecha a porta.
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