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O suor escorre pelos olhos. A respiração é ofegante. “160 bpm” – o visor do polar indica. No ambiente, mais ou menos 300 pessoas faziam a mesma coisa. Corriam. Pra afastar problemas. Pra manter o corpo ativo. Pra demonstrarem poder. Através do corpo.
“Não existe ganho sem dor.” Pensava ele na máxima das academias. E como doía.
Mas o que mais doía, não era o corpo. Era saber que sua vida estava assim: mecânica. Como se tivesse ligado o piloto automático e não soubesse onde desligar.
Lembrou-se da faculdade. Dos pais que não mais via. Nem mesmo em datas importantes. Como esta: seu aniversário. 14 de outubro de 2003. Fazia então trinta e cinco anos.
Há quinze anos estava estudando, na FGV.
Lembra de chegar em casa, depois de uma noite maravilhosa com Lídia.
“Então? Como foi a noite?” Perguntou seu pai, Arnaldo, sentando-se na mesa para tomar café.
Adriano tira a jaqueta e responde – “Boa. Com final ruim. Não suporto a sensação de ter que esperar muito pra me juntar a ela. E toda vez que a deixo em casa sinto um vazio.”
O senhor estende a mão pedindo a manteiga – “Filho. O vazio é inerente ao homem. Se juntar a ela não irá preenchê-lo. Acredite!”
Adriano olha para o café.
“Tá adoçado?”
“Sim. Como sempre.”
“Minha mãe não tem jeito. Assim tenho que sair mesmo. Ou viro uma bola quando começar a trabalhar.”
Sorri. E percebe que quinze minutos se passaram. Assim como a dor. E lembra-se do sabor do café de casa. Sabor que o acompanhou desde a infância.
Novamente sorri – “Americanos. Não sabem fazer café...”
E uma preocupação vem à mente. A negociação com a rede Five. E o grande negócio que teria que fechar nos próximos dias. Pensa em Ahzan. Seu patrão e dono da Arábica. Pensa na família dele. Pensa no que vem pela frente.
Um comentário:
Uma reflexão dos nossos tempos muitissimo bem feita!
Fico à espera do link para o myspace!
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