terça-feira, 8 de setembro de 2020

Mãe Cerrado



Ah mãe 

No teu ventre me criei

Seu calor não me incomoda

Nem mesmo seu ar seco


Ah mãe sei que do fogo renasce

E acolhe toda sorte de bicho no teu colo

Na chuva insistente de março 


E quando parece frio

Nos deita na sua cama e nos ensina as estrelas


Mãe, quando te machucam eu choro

Com seu braços tal galhos e troncos recortados

Pelas serras descendo aroeiras, ipês


E nessa desova de soja e milho

Você chora

Ao ver os novos filhos gritarem aos antigos

Isso é progresso

Não aquilo


Eu, filho mais velho

Vi lobo guará fugir

Tamanduás morrer com os carros

E a cascavel se esconder

Confesso

Eu sinto raiva

Mas nada a temer 

Dos novos filhos


Um dia eles irão gemer

Implorar sua volta

Te reconstruir 

Sedentos de águas nas grotas secas

Rezando pro seu espírito 


E sei que irá voltar e nos abraçar

Renascendo feito a fênix num novo cio