“Coração, juventude e fé”... Quem já escutou (e escutou verdadeiramente) tais palavras mágicas nas melodias de Milton, entende o quanto esse sentimento faz parte do melancolismo nostálgico que vivem nossas universidades.
Muitos se perguntam o que realmente aconteceu? Por quais razões o ensino mudou tanto. Fica claro nos ataques à pessoa de José Dirceu e sua ascensão política fruto de lutas estudantis no regime militar.
Do que estou falando?
Bem, quem realmente procura uma linha de pensamento própria e crítica e não simplesmente reproduz as frases ditadas por reitores e professores sabe muito bem o que estou falando...
Que o ensino passou de uma tentativa de filosofia crítica e política para um calhamaço de papéis burocráticos que ensinam toda a técnica profissional, mas longe de ensinar o que fazer com essa técnica.
Muito menos de ensinar a pensar essa técnica, mas simplesmente reproduzi-la na esperança de ela seja melhorada por um simples arremedo tecnicamente melhorado.
Falta de vontade das instituições. Não, muita vontade de reprodução em alta escala de capital humano.
Não tenho pretensões de esgotar o assunto. Mas lançar uma pedra no lago, na teoria Taoísta que o impulso vale tanto quanto a onda que chega na praia do lago.
Fiquemos então com os “crimes pra comentar” e “samba pra distrair”, não é Chico?.
Boa diversão.
MEC-USAID[1]
Série de acordos produzidos, nos anos 1960, entre o Ministério da Educação brasileiro (MEC) e a United States Agency for International Development (USAID). Visavam estabelecer convênios de assistência técnica e cooperação financeira à educação brasileira. Entre junho de 1964 e janeiro de 1968, período de maior intensidade nos acordos, foram firmados 12, abrangendo desde a educação primária (atual ensino fundamental) ao ensino superior. O último dos acordos firmados foi no ano de 1976.
Os MEC-USAID inseriam-se num contexto histórico fortemente marcado pelo tecnicismo educacional da teoria do capital humano, isto é, pela concepção de educação como pressuposto do desenvolvimento econômico. Nesse contexto, a “ajuda externa” para a educação tinha por objetivo fornecer as diretrizes políticas e técnicas para uma reorientação do sistema educacional brasileiro, à luz das necessidades do desenvolvimento capitalista internacional. Os técnicos norte-americanos que aqui desembarcaram, muito mais do que preocupados com a educação brasileira, estavam ocupados em garantir a adequação de tal sistema de ensino aos desígnios da economia internacional, sobretudo aos interesses das grandes corporações norte-americanas. Na prática, os MEC-USAID não significaram mudanças diretas na política educacional, mas tiveram influência decisiva nas formulações e orientações que, posteriormente, conduziram o processo de reforma da educação brasileira na Ditadura Militar. Destacam-se a Comissão Meira Mattos, criada em 1967, e o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU), de 1968, ambos decisivos na reforma universitária (Lei nº 5.540/1968) e na reforma do ensino de 1º e 2º graus (Lei nº 5.692/1971).
Para o estudo dos acordos MEC-USAID, é fundamental consultar as obras de José Oliveira Arapiraca, A USAID e a educação brasileira: um estudo a partir de uma abordagem crítica da teoria do capital humano (1982); Ted Goertzel, MEC-USAID: ideologia de desenvolvimento americano aplicado à educação superior brasileira (1967); Márcio Moreira Alves, O beabá dos MEC-USAID (1968).
Sobre os impactos históricos dos MEC-USAID na educação brasileira, ver: Otaíza Romanelli, História da educação no Brasil (1978); Luiz Antônio Cunha e Moacyr de Góes, O golpe na educação (1985); Francis Mary Guimarães Nogueira, Ajuda externa para a educação brasileira: da USAID ao Banco Mundial (1999).
sábado, 28 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Tremor Exagerado - 5a Parte
...5...
“Não... De forma alguma. Realmente o cigarro não faz bem, assim como a cafeína em excesso – e não é só o café que contem essa substância...”
“Mas eu só gosto de café...” Responde Ian ao psiquiatra.
“Sim, mas como dizia, a Epilepsia não é uma doença, segundo alguns estudos, que se adquire durante a vida, mas é resultante de fatores congênitos. De alguma forma se manifesta mediante uma espécie de gatilho. Por isso, Ian, recomendo a terapia com psicólogo ou psicanalista, além da medicação que estou te passando, é claro.”
A descrição do estado atual de saúde não agrada ao rapaz. Ele se indaga: “Quem é esse homem, que pensa que pode me conhecer tanto assim? Mas de alguma forma tem razão, pois de onde viriam tantos tremores estranhos?” E continua a escutar a exposição.
Os minutos se passam, Ian se dirige com Perla à farmácia para adquirir o medicamento. Arnaldo foi cuidadosamente convidado a não se juntar a eles, sob o pedido do enfermo.
Ian não pensava em outra coisa, senão em explorar o novo universo que se abria. Interessava-se sobre o doente mental como não havia feito antes. E já imaginava novas formas e cores para compor.
Após a farmácia e tomar a medicação sob os cuidados de Perla, Ian se dirige com a amiga para o Ateliê.
Ao chegar ele a agradece. Ela o olha tenramente. Eles não compreendem muito bem o que se passa. De repente a amizade tomava um rumo diferente. Um carinho superior nascia entre os dois. Interessante, pois Ian não se sentia querido por alguém há muito tempo. Desde que aos oito anos de idade perdera a mãe.
Se sente invadido e deixa acontecer a invasão. Perla o beija no rosto. Ian escorrega os lábios para os dela. E o amor flui com naturalidade. Quando percebem estão atônitos com o que aconteceu. Uma transa singela, doce, mas ao mesmo tempo vigorosa e quente.
“Mas eu só gosto de café...” Responde Ian ao psiquiatra.
“Sim, mas como dizia, a Epilepsia não é uma doença, segundo alguns estudos, que se adquire durante a vida, mas é resultante de fatores congênitos. De alguma forma se manifesta mediante uma espécie de gatilho. Por isso, Ian, recomendo a terapia com psicólogo ou psicanalista, além da medicação que estou te passando, é claro.”
A descrição do estado atual de saúde não agrada ao rapaz. Ele se indaga: “Quem é esse homem, que pensa que pode me conhecer tanto assim? Mas de alguma forma tem razão, pois de onde viriam tantos tremores estranhos?” E continua a escutar a exposição.
Os minutos se passam, Ian se dirige com Perla à farmácia para adquirir o medicamento. Arnaldo foi cuidadosamente convidado a não se juntar a eles, sob o pedido do enfermo.
Ian não pensava em outra coisa, senão em explorar o novo universo que se abria. Interessava-se sobre o doente mental como não havia feito antes. E já imaginava novas formas e cores para compor.
Após a farmácia e tomar a medicação sob os cuidados de Perla, Ian se dirige com a amiga para o Ateliê.
Ao chegar ele a agradece. Ela o olha tenramente. Eles não compreendem muito bem o que se passa. De repente a amizade tomava um rumo diferente. Um carinho superior nascia entre os dois. Interessante, pois Ian não se sentia querido por alguém há muito tempo. Desde que aos oito anos de idade perdera a mãe.
Se sente invadido e deixa acontecer a invasão. Perla o beija no rosto. Ian escorrega os lábios para os dela. E o amor flui com naturalidade. Quando percebem estão atônitos com o que aconteceu. Uma transa singela, doce, mas ao mesmo tempo vigorosa e quente.
... Um dia para o silêncio ...
retirado do site:
http://infoalternativa.org/
Kafka tem um rival. O Ministério dos Negócios Estrangeiros dá-nos lições sobre direitos humanos
John Pilger; 1 de Dezembro de 2008
Hoje (1 de Dezembro), um evento surrealista terá lugar no centro de Londres. O Ministério dos Negócios Estrangeiros organiza um dia aberto para «sublinhar a importância dos Direitos Humanos no nosso trabalho como parte do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem». Haverá vários “palcos” e “painéis de discussão” e o ministro dos Negócios Estrangeiros, David Miliband, apresentará um prémio de Direitos Humanos. Será isto uma paródia? Não. O Ministério dos Negócios Estrangeiros quer elevar a nossa «consciência sobre direitos humanos». Kafka e Heller têm muitos imitadores.
Não haverá palco para os habitantes das Ilhas Chagos, os 2.000 cidadãos britânicos expulsos da sua terra natal no Oceano Índico, combatidos pelo governo de Miliband a fim de impedi-los de retornar ao que é agora uma base militar dos EUA e um suspeito centro de tortura da CIA. O Supremo Tribunal reiteradamente restaurou este direito humano fundamental aos ilhéus, a essência da Magna Carta, descrevendo as acções do Ministério dos Negócios Estrangeiros como «ultrajantes», «repugnantes» e «ilegais». Não importa. Os advogados de Miliband recusaram-se a desistir e foram salvos a 22 de Outubro pelos julgamentos transparentemente políticos de três membros da Câmara dos Lordes.
Não haverá palco para as vítimas de uma política britânica sistemática de exportar armas e equipamento militar para dez dos 14 países mais pobres e exangues pela guerra de África. No seu discurso de hoje, com a boa gente da Amnistia e da Save The Children a assistir, o que dirá Miliband às vítimas desta violência patrocinada pelos britânicos? Talvez mencione, como frequentemente faz, a necessidade de “boa governação” em lugares longínquos, enquanto o seu próprio regime suprime uma investigação do Serious Fraud Office [Gabinete de Grandes Fraudes] aos negócios de armas de 43 milhões de libras da BAE com a tirania corrupta na Arábia Saudita – com a qual, notou o ministro dos Negócios Estrangeiros Kim Howells em 2007, os britânicos têm «valores em comum».
Não haverá palco para os iraquianos cuja vida social, cultural e real foi esmagada por uma invasão não provocada baseada em comprovadas mentiras. Será que o ministro dos Negócios Estrangeiros pedirá desculpa pelas bombas de fragmentação que os britânicos têm espalhado, que ainda rebentam as pernas de crianças, ou pelo urânio empobrecido e outros produtos tóxicos que têm feito com que o cancro consuma vastas camadas populares do Sul do Iraque? Será que falará acerca do direito humano ao conhecimento e anunciará o desviar de uma parte dos milhares de milhões destinados a resgatar a City [centro financeiro] de Londres, para restaurar aquele que era um dos melhores sistemas escolares do Médio Oriente, obliterado como consequência da invasão anglo-americana, e para os museus e editoras e livrarias, e professores, historiadores, antropologistas e cirurgiões? Será que anunciará o envio de simples anestésicos e seringas para hospitais que antes tinham quase tudo e hoje nada têm, num país onde os governos britânicos, especialmente o seu, lideraram o bloqueio à ajuda humanitária, incluindo a proibição de Kim Howells à entrada de vacinas para proteger crianças de doenças evitáveis?
Não haverá palco para a gente de Gaza cuja maioria, diz a Cruz Vermelha Internacional, está ameaçada de fome, em particular as crianças. Prosseguindo uma política de reduzir um milhão e meio de pessoas a uma existência hobbesiana, os israelenses cortaram a maioria dos suportes de vida. David Miliband esteve recentemente em Jerusalém, a uma curta distância de voo de helicóptero do povo cativo de Gaza. Não foi lá e nada disse sobre os seus direitos humanos, preferindo palavras dúplices acerca de uma “trégua” entre atormentador e vítimas.
Não haverá palco para os sindicalistas, estudantes, jornalistas e defensores dos direitos humanos assassinados na Colômbia, um país onde as “forças de segurança” do governo são treinadas por britânicos e americanos, e são responsáveis por 90 por cento das torturas, diz um novo estudo do grupo de direitos humanos britânico, Justice for Colombia. O Ministério dos Negócios Estrangeiros diz que está a «melhorar o registro de direitos humanos dos militares e a combater o tráfico de droga». O estudo não encontra um vestígio de evidência que suporte isto. Agentes colombianos implicados em homicídios são recebidos no Reino Unido para “seminários”.
Não haverá palco para a história, para a nossa memória. Arquivados nas grandes bibliotecas britânicas e arquivos documentais, ficheiros oficiais desclassificados dizem a verdade acerca das políticas britânicas e dos direitos humanos, desde atrocidades oficialmente avalizadas em campos de concentração no Quénia colonial e o armamento do genocida general Suharto na Indonésia, até ao fornecimento de armas biológicas a Saddam Hussein na década de 1980.
Enquanto ouvimos o zumbido moralista de ex-militares britânicos “peritos em segurança” dizendo-nos o que pensar acerca dos terríveis eventos em Bombaim, podemos lembrar-nos do papel histórico britânico como parteiro do extremismo violento no Islão moderno, desde a ascensão da Irmandade Muçulmana no Egipto na década de 1950 e o derrube do governo democrático liberal do Irão, ao armamento pelo MI6 dos mujahedin afegãos, os taliban em processo de formação. O objectivo era, e continua a ser, a negação do nacionalismo a povos lutando para ser livres, especialmente no Médio Oriente, onde o petróleo, diz um documento secreto do Ministério dos Negócios Estrangeiros de 1947, é «um prémio vital para qualquer potência interessada na influência e dominação mundial». Os direitos humanos estão quase totalmente ausentes desta memória oficial, ao contrário do medo de ser descoberto. A expulsão secreta dos habitantes das ilhas de Chagos, diz um memorando do Ministério dos Negócios Estrangeiros de 1964, «devia ser cronometrada de modo a atrair o mínimo de atenção e devia ter alguma cobertura lógica [de modo a não] levantar suspeitas acerca do seu propósito».
Como é que se perpetua este país das maravilhas? Os media desempenham o seu papel histórico, seguindo a linha do poder, censurando por omissão. Roland Challis, que era o correspondente da BBC no Sudeste Asiático quando Suharto estava a chacinar centenas de milhares de alegados comunistas na década de 1960, disse-me: «Foi um triunfo para a propaganda ocidental. As minhas fontes britânicas alegavam não saber o que se passava, mas sabiam… Os navios de guerra britânicos escoltaram um navio cheio de soldados indonésios através dos Estreitos de Malaca para que eles pudessem tomar parte nesse terrível holocausto».
Hoje, a propaganda das relações públicas vestida de erudição promove o mesmo poder predatório britânico, enquanto procura fixar as fronteiras da discussão pública. Um relatório foi publicado na semana passada pelo Institute for Public Policy Research, que se descreve a si mesmo como «o mais proeminente think tank progressista do Reino Unido». Tendo sido esvaziado do seu significado etimológico, o antes nobre termo “progressista” junta-se a “democracia” e “centro-esquerda” no rol de mentiras. Lord George Robertson, o novo falcão de guerra do New Labour, devoto do submarino Trident e antigo chefe da NATO, tem a sua assinatura na capa, junto com Paddy Ashdown, antigo vice-rei dos Balcãs. Confortavelmente baseado em clichés de gestão de crises, o relatório do IPPR (“Destinos Partilhados”) é um «apelo à acção» porque «estados fracos, corruptos e falhados tornaram-se maiores riscos de segurança que os fortes e competitivos». Sem mencionar o terror dos estados ocidentais, a o «apelo» é à NATO em África e à intervenção militar «se considerada necessária».
Há uma concordância quanto à “percepção” de que a actual “intervenção” anglo-americana em terras muçulmanas potencia o terrorismo na Grã-Bretanha: o que é ofuscantemente óbvio para a maioria das pessoas. Em Fevereiro de 2003, quase 80 por cento dos londrinos sondados acreditava que um ataque britânico ao Iraque «tornaria mais provável um ataque a Londres». Foi exactamente esta a advertência feita a Blair pelo Joint Intelligence Committee. A advertência não é menos urgente enquanto “nós” continuamos a atacar os países de outras povos e a permitir que falsos campeões roubem os direitos humanos de todos nós.
http://infoalternativa.org/
Kafka tem um rival. O Ministério dos Negócios Estrangeiros dá-nos lições sobre direitos humanos
John Pilger; 1 de Dezembro de 2008
Hoje (1 de Dezembro), um evento surrealista terá lugar no centro de Londres. O Ministério dos Negócios Estrangeiros organiza um dia aberto para «sublinhar a importância dos Direitos Humanos no nosso trabalho como parte do 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem». Haverá vários “palcos” e “painéis de discussão” e o ministro dos Negócios Estrangeiros, David Miliband, apresentará um prémio de Direitos Humanos. Será isto uma paródia? Não. O Ministério dos Negócios Estrangeiros quer elevar a nossa «consciência sobre direitos humanos». Kafka e Heller têm muitos imitadores.
Não haverá palco para os habitantes das Ilhas Chagos, os 2.000 cidadãos britânicos expulsos da sua terra natal no Oceano Índico, combatidos pelo governo de Miliband a fim de impedi-los de retornar ao que é agora uma base militar dos EUA e um suspeito centro de tortura da CIA. O Supremo Tribunal reiteradamente restaurou este direito humano fundamental aos ilhéus, a essência da Magna Carta, descrevendo as acções do Ministério dos Negócios Estrangeiros como «ultrajantes», «repugnantes» e «ilegais». Não importa. Os advogados de Miliband recusaram-se a desistir e foram salvos a 22 de Outubro pelos julgamentos transparentemente políticos de três membros da Câmara dos Lordes.
Não haverá palco para as vítimas de uma política britânica sistemática de exportar armas e equipamento militar para dez dos 14 países mais pobres e exangues pela guerra de África. No seu discurso de hoje, com a boa gente da Amnistia e da Save The Children a assistir, o que dirá Miliband às vítimas desta violência patrocinada pelos britânicos? Talvez mencione, como frequentemente faz, a necessidade de “boa governação” em lugares longínquos, enquanto o seu próprio regime suprime uma investigação do Serious Fraud Office [Gabinete de Grandes Fraudes] aos negócios de armas de 43 milhões de libras da BAE com a tirania corrupta na Arábia Saudita – com a qual, notou o ministro dos Negócios Estrangeiros Kim Howells em 2007, os britânicos têm «valores em comum».
Não haverá palco para os iraquianos cuja vida social, cultural e real foi esmagada por uma invasão não provocada baseada em comprovadas mentiras. Será que o ministro dos Negócios Estrangeiros pedirá desculpa pelas bombas de fragmentação que os britânicos têm espalhado, que ainda rebentam as pernas de crianças, ou pelo urânio empobrecido e outros produtos tóxicos que têm feito com que o cancro consuma vastas camadas populares do Sul do Iraque? Será que falará acerca do direito humano ao conhecimento e anunciará o desviar de uma parte dos milhares de milhões destinados a resgatar a City [centro financeiro] de Londres, para restaurar aquele que era um dos melhores sistemas escolares do Médio Oriente, obliterado como consequência da invasão anglo-americana, e para os museus e editoras e livrarias, e professores, historiadores, antropologistas e cirurgiões? Será que anunciará o envio de simples anestésicos e seringas para hospitais que antes tinham quase tudo e hoje nada têm, num país onde os governos britânicos, especialmente o seu, lideraram o bloqueio à ajuda humanitária, incluindo a proibição de Kim Howells à entrada de vacinas para proteger crianças de doenças evitáveis?
Não haverá palco para a gente de Gaza cuja maioria, diz a Cruz Vermelha Internacional, está ameaçada de fome, em particular as crianças. Prosseguindo uma política de reduzir um milhão e meio de pessoas a uma existência hobbesiana, os israelenses cortaram a maioria dos suportes de vida. David Miliband esteve recentemente em Jerusalém, a uma curta distância de voo de helicóptero do povo cativo de Gaza. Não foi lá e nada disse sobre os seus direitos humanos, preferindo palavras dúplices acerca de uma “trégua” entre atormentador e vítimas.
Não haverá palco para os sindicalistas, estudantes, jornalistas e defensores dos direitos humanos assassinados na Colômbia, um país onde as “forças de segurança” do governo são treinadas por britânicos e americanos, e são responsáveis por 90 por cento das torturas, diz um novo estudo do grupo de direitos humanos britânico, Justice for Colombia. O Ministério dos Negócios Estrangeiros diz que está a «melhorar o registro de direitos humanos dos militares e a combater o tráfico de droga». O estudo não encontra um vestígio de evidência que suporte isto. Agentes colombianos implicados em homicídios são recebidos no Reino Unido para “seminários”.
Não haverá palco para a história, para a nossa memória. Arquivados nas grandes bibliotecas britânicas e arquivos documentais, ficheiros oficiais desclassificados dizem a verdade acerca das políticas britânicas e dos direitos humanos, desde atrocidades oficialmente avalizadas em campos de concentração no Quénia colonial e o armamento do genocida general Suharto na Indonésia, até ao fornecimento de armas biológicas a Saddam Hussein na década de 1980.
Enquanto ouvimos o zumbido moralista de ex-militares britânicos “peritos em segurança” dizendo-nos o que pensar acerca dos terríveis eventos em Bombaim, podemos lembrar-nos do papel histórico britânico como parteiro do extremismo violento no Islão moderno, desde a ascensão da Irmandade Muçulmana no Egipto na década de 1950 e o derrube do governo democrático liberal do Irão, ao armamento pelo MI6 dos mujahedin afegãos, os taliban em processo de formação. O objectivo era, e continua a ser, a negação do nacionalismo a povos lutando para ser livres, especialmente no Médio Oriente, onde o petróleo, diz um documento secreto do Ministério dos Negócios Estrangeiros de 1947, é «um prémio vital para qualquer potência interessada na influência e dominação mundial». Os direitos humanos estão quase totalmente ausentes desta memória oficial, ao contrário do medo de ser descoberto. A expulsão secreta dos habitantes das ilhas de Chagos, diz um memorando do Ministério dos Negócios Estrangeiros de 1964, «devia ser cronometrada de modo a atrair o mínimo de atenção e devia ter alguma cobertura lógica [de modo a não] levantar suspeitas acerca do seu propósito».
Como é que se perpetua este país das maravilhas? Os media desempenham o seu papel histórico, seguindo a linha do poder, censurando por omissão. Roland Challis, que era o correspondente da BBC no Sudeste Asiático quando Suharto estava a chacinar centenas de milhares de alegados comunistas na década de 1960, disse-me: «Foi um triunfo para a propaganda ocidental. As minhas fontes britânicas alegavam não saber o que se passava, mas sabiam… Os navios de guerra britânicos escoltaram um navio cheio de soldados indonésios através dos Estreitos de Malaca para que eles pudessem tomar parte nesse terrível holocausto».
Hoje, a propaganda das relações públicas vestida de erudição promove o mesmo poder predatório britânico, enquanto procura fixar as fronteiras da discussão pública. Um relatório foi publicado na semana passada pelo Institute for Public Policy Research, que se descreve a si mesmo como «o mais proeminente think tank progressista do Reino Unido». Tendo sido esvaziado do seu significado etimológico, o antes nobre termo “progressista” junta-se a “democracia” e “centro-esquerda” no rol de mentiras. Lord George Robertson, o novo falcão de guerra do New Labour, devoto do submarino Trident e antigo chefe da NATO, tem a sua assinatura na capa, junto com Paddy Ashdown, antigo vice-rei dos Balcãs. Confortavelmente baseado em clichés de gestão de crises, o relatório do IPPR (“Destinos Partilhados”) é um «apelo à acção» porque «estados fracos, corruptos e falhados tornaram-se maiores riscos de segurança que os fortes e competitivos». Sem mencionar o terror dos estados ocidentais, a o «apelo» é à NATO em África e à intervenção militar «se considerada necessária».
Há uma concordância quanto à “percepção” de que a actual “intervenção” anglo-americana em terras muçulmanas potencia o terrorismo na Grã-Bretanha: o que é ofuscantemente óbvio para a maioria das pessoas. Em Fevereiro de 2003, quase 80 por cento dos londrinos sondados acreditava que um ataque britânico ao Iraque «tornaria mais provável um ataque a Londres». Foi exactamente esta a advertência feita a Blair pelo Joint Intelligence Committee. A advertência não é menos urgente enquanto “nós” continuamos a atacar os países de outras povos e a permitir que falsos campeões roubem os direitos humanos de todos nós.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Tremor Exagerado - 4a Parte
... 4 ...
É terça-feira, 18 de dezembro de 2007. É verão no Rio. No Leblon os carros apressados para o início de expediente se confundem com os de turistas, morosos, que aproveitam a vista do morro dos Dois Irmãos, procuram lugar para estacionar.
Na praia, os patinadores estão desenvolvendo corridas na ciclovia. Jogadores de “foot-voley”, disputam a areia com banhistas. É a enciclopédia de seres-humanos. E dela, Ian pensa que entende, compreende e rejeita. E ela, ele admira de seu apartamento em uma rua vicinal à Avenida Vieira Souto.
O café solta seu cheiro pela primeira vez, de várias no dia.
Ian, nasceu no interior do Rio no município de Rio Preto, distrito de Valença. Veio para a capital ainda com quatorze anos, adolescente. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde se preparou para a prova específica de admissão na Escola de Belas Artes. Ingressou no ensino superior aos dezesseis anos, prematuramente. Assim também terminou a cadeira de Pintura, ainda aos dezenove anos. Continuou estudando, mediante patrocínio do governo brasileiro, frente à sua bela demonstração de dedicação e talento. Fez pós em “fine arts” no Pratt Institute, NY/EUA, pós em história e prática expressionista na Universidade de Amsterdam/Holanda, onde finalmente achou sua veia nas obras dos mestres expressionistas do final do século 19.
Ian foi rápido, decidido e certeiro. Voltou para o Rio. Adquiriu seu ateliê e moradia no magnífico Leblon e vê o mundo abaixo dele. Sente um poder sobre a própria vida que muitos não sentem. Vê o mundo distorcido pelas lentes da incredulidade. E manifesta até contra a família de Perla, sua indignação.
Mas o preço por colocar sua visão para o mundo se tornou caro. A solidão e o isolamento são cada vez mais constantes em sua vida. E pra aumentar o temor do jovem, tremores estranhos têm acontecido com uma freqüência alta. Talvez fosse a quantidade de café. Mas ele não entendia muito bem o assunto.
Já se passaram quatro horas entre pinceis, cavaletes, cinzeiros e xícaras de café... E nada. A idéia fugia. O instrumental estava dando voltas na cabeça do jovem. Ele se perde... Lembra que havia uma companhia com Perla no MAM, Arnaldo, a acompanhava na saída. Suas mãos tremem... Ele sente o corpo separar da mente... Pois tenta controlar e nada... Cai ao chão... Geme... Tenta gritar, como uma criança grita pela mãe... Em vão... Desmaia depois de tanta energia perdida.
Acorda com um arrombo em sua porta. Por ela vê a forma embassada de Perla e Arnaldo. O casal chegava preocupado, pois os vizinhos falavam de gritos e sobre um barulho de quem caía ao chão.
Perla pega um copo d’água – “Você está bem, amigo?”
“Ainda estou zonzo...” Responde depois de dar um gole na água.
“Você precisa se cuidar... Está fumando muito e tomando muito café. O que aconteceu?”
Ian olha para Arnaldo – “O que ele faz aqui?”
“Admira seu trabalho, Ian, não fale assim.”
“Você precisa de um médico...” Responde Arnaldo ao embate do colega.
“Sim, Ian. Vamos ao médico.” Assume, logo, Perla a postura de cuidado.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Tremor Exagerado - 3a Parte
... 3 ...
Eles entram. Figuras do Rio, influentes na arte, admiradores com alto poder aquisitivo. Muitos estão ali para observar, admirar, entender o que se passa na mente dos expositores. Outros, meramente buscam contatos, para seus empreendimentos, para deleite noturno.
Ian está a degustar um café. Fora da área de exposição. E pensando na dificuldade de comunicação com esse mundo que para ele é hipócrita. Medonho.
Perla chega, ainda não tinha entrado. Para no café para falar com o amigo.
“Então Ian. Não vai entrar.”
Ele não responde.
“Ian. É sua arte...”
Ele interrompe. “Eles não merecem. Pensam que estão comprando bilhetes para a alma do expositor. Quando na verdade estão expondo todas as suas fraquezas. Poder. Pedância. Hipocrisia.”
“É Ian... Compreendo-te. Mas tem que admitir que são eles que pagam suas contas.”
“Gostaria de não tê-las. Estou me cansando desta cidade.”
“Bom... Vou ver o que aprontou.” Ri com carinho a amiga.
Perla entra. Com ar de quem vai ceiar a mais bela das ceias. Com fome de compreender a alma dessas pessoas completamente absorvidas por suas interpretações da realidade. “Como podem ter capacidade de captar tanta coisa?” – Pensa.
E se assusta. Logo que entra é recebida pela exposição de Arnaldo. Vê a interação de pequenos robôs que riem um do outro, fecham portas, voltam à abri-las e riem novamente. Como crianças. Um deleite. Quanta tecnologia aplicada pra mostrar um sentimento humaníssimo.
E passeia. Para. Ri. Sente. Emociona-se. Não percebe quem está ali e continua para as outras exposições.
Lê a apresentação. “Ian Bortago.”
Respira fundo para admirar o que o amigo fez. E não acredita no que vê. Sente um nojo. Do coração escorrendo pela parede. E sangue em seguida. Vísceras. A parede de ladrilhos brancos. Um avental de plástico no chão... Branco. Suspira. Entende.
“É um abatedouro!” Pensa indignada. Seria uma mensagem para ela? “Olha o que seus pais fazem.” Pensa em Ian te dizendo.
E sai da exposição. Furiosa. Possessa.
Dirige-se ao café.
“Ian deve estar tomando o décimo terceiro expresso.”
E estava. Além da feição absorta em si mesmo, um cinzeiro repleto de esqueletos de cigarros.
Ele a vê. E sorri. Sorri como quem sorri de alguém ridículo.
Ela o aborda.
“Porque fez isso?”
“Porque é o quero que veja.”
“Eu sabia!”
Não se despede e deixa o MAM, as exposições e Ian a se entupir de café.
sábado, 13 de dezembro de 2008
Tremor Exagerado - 2a Parte
... 2 ...
Dia 19 de outubro de 2007. Mais uma data pra ser marcada no calendário pessoal de Ian. Hoje ele está a montar uma exposição diferente no MAM. Cuidadosamente posiciona objetos de sua criação. “Não sei como consegui chegar a esse ponto de vista.”, murmura para si mesmo. “Mas, com certeza é a ideologia mais próxima que tenho do abate de bois e vacas.” e ri. “Engraçado. Fico pensando na semelhança anatômica com o ser humano. Poderiam ser eles, bois e vacas, a retratar o nosso abate aqui!”.
Aquele fim de ano era diferente para Ian. Foi convidado a expor com construções. Já conheciam sua prática com objetos e composições. “Aquilo é demais!”, pensava o curador, assistindo cuidadosamente a colocação dos objetos e a finalização com outros instrumentos: tinta, cola e adereços diversos.
“Pronto!” - virou-se para o Curador, Ian.
“Está excelente!” - responde o responsável pela exposição no MAM.
Nesse momento chega Arnaldo, Arnaldo Rogierard. Artista Plástico, que usa elementos eletrônicos de última geração em suas composições. Festejado pela comunidade que entende sobre o que há de mais vanguardista. “Sujeito intrometido...” - Pensa logo Ian. Não suporta o ar pedante e falsamente imponente do colega.
“Ian. Sempre com sua visão extremamente política. Não gosta de carne vermelha?” - Ri o artista rival, de forma provocante.
“Já me vou, senhor. Terminei o que tinha pra fazer aqui!” - Fala Ian ao curador.
“Obrigado por participar. Sua obra é muito singela.”
“Bom... Eu ainda tenho que montar um último circuito elétrico. Mas enfim. Tempo tenho de sobra. Não é senhor?” Pergunta Arnaldo ao curador.
“O senhor que sabe. Contanto que às oito horas possa preparar a entrada dos convidados, Arnaldo.” Responde de forma ríspida.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Voltei... Para postar outro conto!
Pra publicar esse conto que me foi caro...
Segue:
Mesmo com tanta angústia, se sentia satisfeito. Não dar atenção para o mundo. Se prender no seu. Perceber que a realidade pode estar apenas dentro de si mesmo. Do indivíduo.
“Quem quer saber o que eu penso? Querem que eu saiba o que pensam? Então não me escutam? Tudo bem, eu mostro pra eles o que penso!”, refletia Ian enquanto continuava a fumar seu cigarro.
“Café, faz falta um agora...” Resmungava para si mesmo.
Sujeito fechado, cheio de manias e teimosias, era considerado assim o jovem artista plástico: Ian Bortago.
Anti-carismático, quando chegava a alguma exposição sua, concluía que todos ali estavam muito aquém do que realmente acreditava: a dor.
Dor de não existir.
“Ninguém existe. Vivemos num mundo milhares de vezes, re-copiado!”
Cheio de frases de efeito. A maioria esmagadora achava difícil conviver com um sujeito assim. A não ser Perla.
Filha de criadores de gado, Perla vivia num mundo de ilusão e achava difícil aceitar sua realidade, mas se entregava assim mesmo, com muito jogo de cintura. Sabia que devia muito aos abastados da família Noleto, e seus amigos, muito mesmo!
“Sou o que comi do suor deles. E sou grata a isso.”, suspirava para Ian, durante uma visita ao amigo no seu pequeno, porém charmoso ateliê.
“A vida do Leblon está aqui Ian!”, falava Perla enquanto olhava para a retratação de um casal de gaivotas destacado no meio da multidão, no céu escarlate do por do sol.
A pintura de Ian tinha muito de expressiva. Traços fortes, tensos, cores fortes, puras. Às vezes, o dedo era seu próprio pincel, nada de formas perfeitas. O belo atacava o visual através do olhar assustado, cheio de dúvidas sobre o que se tratava, mas firme no impacto. Acabava transmitindo para o admirador mais insistente, sua mensagem e intimidando os admiradores menos pacientes com sua visão desligada da realidade pertencente ao comum, ao social, ao padrão.
Segue:
"Tremor Exagerado"
1
Mesmo com tanta angústia, se sentia satisfeito. Não dar atenção para o mundo. Se prender no seu. Perceber que a realidade pode estar apenas dentro de si mesmo. Do indivíduo.
“Quem quer saber o que eu penso? Querem que eu saiba o que pensam? Então não me escutam? Tudo bem, eu mostro pra eles o que penso!”, refletia Ian enquanto continuava a fumar seu cigarro.
“Café, faz falta um agora...” Resmungava para si mesmo.
Sujeito fechado, cheio de manias e teimosias, era considerado assim o jovem artista plástico: Ian Bortago.
Anti-carismático, quando chegava a alguma exposição sua, concluía que todos ali estavam muito aquém do que realmente acreditava: a dor.
Dor de não existir.
“Ninguém existe. Vivemos num mundo milhares de vezes, re-copiado!”
Cheio de frases de efeito. A maioria esmagadora achava difícil conviver com um sujeito assim. A não ser Perla.
Filha de criadores de gado, Perla vivia num mundo de ilusão e achava difícil aceitar sua realidade, mas se entregava assim mesmo, com muito jogo de cintura. Sabia que devia muito aos abastados da família Noleto, e seus amigos, muito mesmo!
“Sou o que comi do suor deles. E sou grata a isso.”, suspirava para Ian, durante uma visita ao amigo no seu pequeno, porém charmoso ateliê.
“A vida do Leblon está aqui Ian!”, falava Perla enquanto olhava para a retratação de um casal de gaivotas destacado no meio da multidão, no céu escarlate do por do sol.
A pintura de Ian tinha muito de expressiva. Traços fortes, tensos, cores fortes, puras. Às vezes, o dedo era seu próprio pincel, nada de formas perfeitas. O belo atacava o visual através do olhar assustado, cheio de dúvidas sobre o que se tratava, mas firme no impacto. Acabava transmitindo para o admirador mais insistente, sua mensagem e intimidando os admiradores menos pacientes com sua visão desligada da realidade pertencente ao comum, ao social, ao padrão.
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