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Eles entram. Figuras do Rio, influentes na arte, admiradores com alto poder aquisitivo. Muitos estão ali para observar, admirar, entender o que se passa na mente dos expositores. Outros, meramente buscam contatos, para seus empreendimentos, para deleite noturno.
Ian está a degustar um café. Fora da área de exposição. E pensando na dificuldade de comunicação com esse mundo que para ele é hipócrita. Medonho.
Perla chega, ainda não tinha entrado. Para no café para falar com o amigo.
“Então Ian. Não vai entrar.”
Ele não responde.
“Ian. É sua arte...”
Ele interrompe. “Eles não merecem. Pensam que estão comprando bilhetes para a alma do expositor. Quando na verdade estão expondo todas as suas fraquezas. Poder. Pedância. Hipocrisia.”
“É Ian... Compreendo-te. Mas tem que admitir que são eles que pagam suas contas.”
“Gostaria de não tê-las. Estou me cansando desta cidade.”
“Bom... Vou ver o que aprontou.” Ri com carinho a amiga.
Perla entra. Com ar de quem vai ceiar a mais bela das ceias. Com fome de compreender a alma dessas pessoas completamente absorvidas por suas interpretações da realidade. “Como podem ter capacidade de captar tanta coisa?” – Pensa.
E se assusta. Logo que entra é recebida pela exposição de Arnaldo. Vê a interação de pequenos robôs que riem um do outro, fecham portas, voltam à abri-las e riem novamente. Como crianças. Um deleite. Quanta tecnologia aplicada pra mostrar um sentimento humaníssimo.
E passeia. Para. Ri. Sente. Emociona-se. Não percebe quem está ali e continua para as outras exposições.
Lê a apresentação. “Ian Bortago.”
Respira fundo para admirar o que o amigo fez. E não acredita no que vê. Sente um nojo. Do coração escorrendo pela parede. E sangue em seguida. Vísceras. A parede de ladrilhos brancos. Um avental de plástico no chão... Branco. Suspira. Entende.
“É um abatedouro!” Pensa indignada. Seria uma mensagem para ela? “Olha o que seus pais fazem.” Pensa em Ian te dizendo.
E sai da exposição. Furiosa. Possessa.
Dirige-se ao café.
“Ian deve estar tomando o décimo terceiro expresso.”
E estava. Além da feição absorta em si mesmo, um cinzeiro repleto de esqueletos de cigarros.
Ele a vê. E sorri. Sorri como quem sorri de alguém ridículo.
Ela o aborda.
“Porque fez isso?”
“Porque é o quero que veja.”
“Eu sabia!”
Não se despede e deixa o MAM, as exposições e Ian a se entupir de café.
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