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É terça-feira, 18 de dezembro de 2007. É verão no Rio. No Leblon os carros apressados para o início de expediente se confundem com os de turistas, morosos, que aproveitam a vista do morro dos Dois Irmãos, procuram lugar para estacionar.
Na praia, os patinadores estão desenvolvendo corridas na ciclovia. Jogadores de “foot-voley”, disputam a areia com banhistas. É a enciclopédia de seres-humanos. E dela, Ian pensa que entende, compreende e rejeita. E ela, ele admira de seu apartamento em uma rua vicinal à Avenida Vieira Souto.
O café solta seu cheiro pela primeira vez, de várias no dia.
Ian, nasceu no interior do Rio no município de Rio Preto, distrito de Valença. Veio para a capital ainda com quatorze anos, adolescente. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde se preparou para a prova específica de admissão na Escola de Belas Artes. Ingressou no ensino superior aos dezesseis anos, prematuramente. Assim também terminou a cadeira de Pintura, ainda aos dezenove anos. Continuou estudando, mediante patrocínio do governo brasileiro, frente à sua bela demonstração de dedicação e talento. Fez pós em “fine arts” no Pratt Institute, NY/EUA, pós em história e prática expressionista na Universidade de Amsterdam/Holanda, onde finalmente achou sua veia nas obras dos mestres expressionistas do final do século 19.
Ian foi rápido, decidido e certeiro. Voltou para o Rio. Adquiriu seu ateliê e moradia no magnífico Leblon e vê o mundo abaixo dele. Sente um poder sobre a própria vida que muitos não sentem. Vê o mundo distorcido pelas lentes da incredulidade. E manifesta até contra a família de Perla, sua indignação.
Mas o preço por colocar sua visão para o mundo se tornou caro. A solidão e o isolamento são cada vez mais constantes em sua vida. E pra aumentar o temor do jovem, tremores estranhos têm acontecido com uma freqüência alta. Talvez fosse a quantidade de café. Mas ele não entendia muito bem o assunto.
Já se passaram quatro horas entre pinceis, cavaletes, cinzeiros e xícaras de café... E nada. A idéia fugia. O instrumental estava dando voltas na cabeça do jovem. Ele se perde... Lembra que havia uma companhia com Perla no MAM, Arnaldo, a acompanhava na saída. Suas mãos tremem... Ele sente o corpo separar da mente... Pois tenta controlar e nada... Cai ao chão... Geme... Tenta gritar, como uma criança grita pela mãe... Em vão... Desmaia depois de tanta energia perdida.
Acorda com um arrombo em sua porta. Por ela vê a forma embassada de Perla e Arnaldo. O casal chegava preocupado, pois os vizinhos falavam de gritos e sobre um barulho de quem caía ao chão.
Perla pega um copo d’água – “Você está bem, amigo?”
“Ainda estou zonzo...” Responde depois de dar um gole na água.
“Você precisa se cuidar... Está fumando muito e tomando muito café. O que aconteceu?”
Ian olha para Arnaldo – “O que ele faz aqui?”
“Admira seu trabalho, Ian, não fale assim.”
“Você precisa de um médico...” Responde Arnaldo ao embate do colega.
“Sim, Ian. Vamos ao médico.” Assume, logo, Perla a postura de cuidado.
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