segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Voltei... Para postar outro conto!

Pra publicar esse conto que me foi caro...

Segue:

"Tremor Exagerado"

1

Mesmo com tanta angústia, se sentia satisfeito. Não dar atenção para o mundo. Se prender no seu. Perceber que a realidade pode estar apenas dentro de si mesmo. Do indivíduo.

“Quem quer saber o que eu penso? Querem que eu saiba o que pensam? Então não me escutam? Tudo bem, eu mostro pra eles o que penso!”, refletia Ian enquanto continuava a fumar seu cigarro.

“Café, faz falta um agora...” Resmungava para si mesmo.

Sujeito fechado, cheio de manias e teimosias, era considerado assim o jovem artista plástico: Ian Bortago.

Anti-carismático, quando chegava a alguma exposição sua, concluía que todos ali estavam muito aquém do que realmente acreditava: a dor.

Dor de não existir.

“Ninguém existe. Vivemos num mundo milhares de vezes, re-copiado!”

Cheio de frases de efeito. A maioria esmagadora achava difícil conviver com um sujeito assim. A não ser Perla.

Filha de criadores de gado, Perla vivia num mundo de ilusão e achava difícil aceitar sua realidade, mas se entregava assim mesmo, com muito jogo de cintura. Sabia que devia muito aos abastados da família Noleto, e seus amigos, muito mesmo!

“Sou o que comi do suor deles. E sou grata a isso.”, suspirava para Ian, durante uma visita ao amigo no seu pequeno, porém charmoso ateliê.

“A vida do Leblon está aqui Ian!”, falava Perla enquanto olhava para a retratação de um casal de gaivotas destacado no meio da multidão, no céu escarlate do por do sol.

A pintura de Ian tinha muito de expressiva. Traços fortes, tensos, cores fortes, puras. Às vezes, o dedo era seu próprio pincel, nada de formas perfeitas. O belo atacava o visual através do olhar assustado, cheio de dúvidas sobre o que se tratava, mas firme no impacto. Acabava transmitindo para o admirador mais insistente, sua mensagem e intimidando os admiradores menos pacientes com sua visão desligada da realidade pertencente ao comum, ao social, ao padrão.

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