Começou o frio.
Inversão térmica. Poluição. Tudo arde. Narinas, garganta,
olhos.
É a cidade. Hora do “rush”. Faróis acesos. Buzinas.
Vitrines. Semáforos.
Tudo arde.
Eu acendo um cigarro. Trago. Espero. As veias entopem.
Artérias. Trombose.
E daí?!
A cidade está entupida. Carros, motos, vans. Um ônibus. Um
ônibus?!
Um único ônibus.
Eu espero. Trombose. A senhora não. Está com pressa. Buzina.
Freios ardendo. Trombada. A senhora recua. Espera nova passagem. Provocou o
acidente. Mas ela tem pressa. Seu ônibus está à frente. Corre. O ponto está
longe.
Passa, com sinal aberto para todo mundo. Menos para ela.
Corre. O ônibus, para. Cansado. Como se esperasse.
Ela chega na porta do ônibus. Vai subir?
Não, alguém entrou antes. Esse alguém recua nas escadas. O
único ônibus nessa confusão está lotado.
Mas e daí?
Tá tudo lotado. Eu que tenho pernas. Estou próximo. Estou
lotado. De tristeza. Angústia. Cigarro. Poluição. No ar. Nos olhos. Na alma.
E daí?!
Os prédios, lojas, postos de gasolina, lanchonetes,
mentes... Barulho!!!
Tá lotado.
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