Ah mãe
No teu ventre me criei
Seu calor não me incomoda
Nem mesmo seu ar seco
Ah mãe sei que do fogo renasce
E acolhe toda sorte de bicho no teu colo
Na chuva insistente de março
E quando parece frio
Nos deita na sua cama e nos ensina as estrelas
Mãe, quando te machucam eu choro
Com seu braços tal galhos e troncos recortados
Pelas serras descendo aroeiras, ipês
E nessa desova de soja e milho
Você chora
Ao ver os novos filhos gritarem aos antigos
Isso é progresso
Não aquilo
Eu, filho mais velho
Vi lobo guará fugir
Tamanduás morrer com os carros
E a cascavel se esconder
Confesso
Eu sinto raiva
Mas nada a temer
Dos novos filhos
Um dia eles irão gemer
Implorar sua volta
Te reconstruir
Sedentos de águas nas grotas secas
Rezando pro seu espírito
E sei que irá voltar e nos abraçar
Renascendo feito a fênix num novo cio